segunda-feira, agosto 23, 2004

Chapas e Machibombos

Ao contrário daquilo a que um Europeu está habituado nas suas capitais, não existe em Maputo um sistema público de transportes. Ou melhor, ele existe, mas a escassez de recursos e principalmente de organização é gritante. A TPM (Transportes Públicos de Moçambique) dispõe de uma reduzida frota de autocarros que atravessam a cidade nalgumas rotas que se complementam; porém não existe um horário bem definido e a consequente dificuldade em apanhar um quando se precisa leva a que os “machibombos” (designação moçambicana para o autocarro) circulem muitas vezes praticamente vazios. Tal falta de procura provoca (penso eu) uma ainda menor preocupação por parte das autoridades em organizar e modernizar o serviço, sendo (tanto quanto sei) o investimento nesta área praticamente nulo.



O reduzido nível de vida em Moçambique impede a maioria dos habitantes de apresentar um poder de compra que lhe permita possuir um automóvel, logo a questão coloca-se: Como se deslocam os moçambicanos dentro da cidade de Maputo? Para além da (ainda) gratuita opção de andar a pé, toda a estrutura de transportes assenta no mercado paralelo dos transportes semi-colectivos explorados por privados. Esta designação pomposa corresponde a uma imensidão - várias centenas - de carrinhas (Toyota Hiace na esmagadora maioria) equipadas com 12 lugares, que cruzam, num constante rodopio, todas as ruas e avenidas da cidade em percursos semi-definidos. O modo de funcionamento destas carrinhas, conhecidas por “chapas” é incrivelmente simples. Elas param para recolher ou largar passageiros em qualquer sítio e o preço, independentemente do percurso percorrido, é de 5000 Meticais (menos de 20 cêntimos). Em cada paragem o angariador recebe o pagamento dos passageiros que saem e tenta cativar quem passa a dar uma voltinha.



Uma análise desprendida leva-nos a concluir que este é um sistema quase perfeito: por uma quantia acessível à maioria dos moçambicanos (e perfeitamente irrisória para todos os estrangeiros) é possível deslocarmo-nos a qualquer hora, sem esperar quase tempo nenhum, para qualquer lado, em pouco tempo e em perfeita segurança pessoal - não há assaltos nos “chapas”!

Há contudo um senão... dada a impossibilidade de controlar o número de passageiros que entram e saem nos “chapas” em cada dia, é exigido ao condutor e ao angariador que paguem uma determinada quantia ao explorador do “chapa” (leia-se o dono da carrinha) sendo o restante o seu lucro pessoal. Assim é fácil compreender a velocidade alucinante a que os chapas andam, desrespeitando regras de trânsito (semáforos incluídos) e competindo freneticamente entre si para chegar primeiro ao cliente que espera; além disso, a perspectiva de uma maior rentabilização leva a que dentro de um “chapa” caiba sempre mais um – chegam a levar 20 pessoas! A maioria destas carrinhas apresenta muitas amolgadelas e a iminência de um acidente espreita em cada esquina.

Ou seja, apesar da segurança pessoal não ser um problema, o mesmo não sucede com a segurança física (já para não falar do conforto)... Tenho mesmo que arranjar um carro!

4 comentários:

  1. Por favor continue a escrever. Viví no Maputo desde 1989 até 1992, av. Mártires de Mueda -- que saudade...

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  2. Ola.Li este artigo sobre os chapas, é interessante sim mas nao deixei de repara ke houveram alguns 'deslizes'.Quero constatar ke os chapas nao tem 'segurança'.. Diguemos ke nesta cidade é 'at ur own risc'..Os chapas são a causa de várias mortes,de vários acidentes,alguns condutores nem sequer tem uma carta verdadeira. Infelismente sao os unicos meios de transporte publicos que temos aquei.Mas é mesmo pke sao os UNICOS.Qto aos roubos dentro do chapa,tenho que discordar com o senhor mais uma vez.Ha SIM roubos nos chapas.Infelismente.! É lamentável.

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  3. Em relação à segurança rodoviária, se reparou bem na minha crónica, eu estou em sintonia consigo... conduzem de uma forma frenética e desregrada e há acidentes com (e provocados por) chapas. Em relação à segurança pessoal, acredito que haja assaltos nos chapas (como os há nos metros e autocarros de qualquer grande cidade na Europa ou nos EUA)... como sempre limitei-me a relatar a minha vivência e andei de chapa de dia e de noite, várias vezes com o computador portátil, falei muita vez ao telemóvel, paguei várias vezes com uma nota de 100.000 meticais e nunca nada me aconteceu, nem nunca presenciei nenhum assalto ou tentativa de... daí a minha afirmação.

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  4. Carlos TROCADO FERREIRA2:52 da tarde

    Machimbombo melhor que machibombo...

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