Crónicas de Maputo

Pequenas páginas de um extenso álbum de memórias gravado durante um ano de intensas experiências vividas enquanto trabalhei em Moçambique no ano lectivo de 2004/2005.

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Localização: Fundão, Cova da Beira, Portugal

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Inhaca - Frank

Chegado a Inhaca, após um breve reconhecimento à cabana sobre o areal onde fiquei instalado, decidi dar uma pequena caminhada pela praia junto ao cais de atracagem dos barcos que efectuam a ligação com o porto de Maputo (solução bem mais económica que a ligação aérea e certamente muito mais interessante – tenho de experimentar em breve).

Enquanto me deleitava com o suave toque de uma areia muito fina e limpíssima, fitava o horizonte onde era possível dislumbrar alguns dos prédios mais altos da cidade de Maputo. Sentado na areia a fumar um cigarro fui surpreendido por uma criança que por ali vagueava; cumprimentámo-nos e rapidamente encetámos uma agradável conversa – imediatamente descobri que o Frank não era um simples míudo: qual Capitão da Areia saído do romance de Jorge Amado, Frank “domina” toda a ilha, conhecendo todos os lugares e pessoas e movimentando-se como ninguém. Graças a ele calcorreei os principais recantos deste paraíso perdido em vez de me limitar às 2 ou 3 rotas pela agência de excursões sul-africana que existe na ilha; mais ainda, consegui poupar bastante dinheiro, pois os transportes que ele arranjou saíram sempre muito mais baratos dos que se recorresse à referida agência.

Tudo aquilo que se pede ao Frank ele arranja – um barco para a Ilha dos Portugueses ou para a praia de Santa Maria, um Jeep para ir até ao farol ou para a viagem de regresso ao aeroporto, peixe palhaço fresquíssimo e a preço de amigo, uma garrafa de aguardente de cana feita na ilha (à qual os locais dão o nome de “tontonto” devido ao barulho que o líquido faz quando bate no alambique metálico), enfim... é só dizer que ele rapidamente providencia!



O dia-a-dia deste míudo de 14 anos, que nunca saíu desta ilha, é acompanhar os turistas que por ali passam, conseguindo desta forma alimentar-se substancialmente melhor e recebendo alguns trocos como gorjeta. Frank acompanhou-me durante os três dias em que estiv na ilha; muito mais do que um simples guia ou carregador, ele foi uma agradável companhia, tendo sido extraordinário partilhar os seus sonhos e expectativas (à sacramental pergunta “o que queres ser quando fores grande?” ele responde sem hesitações e com um brilho no olhar, “piloto de avião, para poder voar para fora da ilha!”), bem como conhecer um pouco do quotidiano deste povo que com escassíssimos recursos consegue encontrar a felicidade.

Frank é daquele tipo de pessoas que gostamos desde logo e que dificilmente voltamos a esquecer.

3 Comments:

Blogger madalenamv said...

Vou a Inhaca no fim de semana, quero saber como é que posso encontrar o Frank.Obrigada

3:26 da tarde  
Blogger Marta * Diana * Bárbara said...

É caso para dizer: quem vai à ilha de Inhaca e não conhece o Frankie (como carinhosamente lhe chamava) e como ir a Roma a não ver o pápá.
É sem dúvida um miúdo com o qual a nossa empatia despulta. Gostei mto de conhecer o Frankie e de estar na sua linda casa e partilhar momentos com ele e sua família.
A ti q conheces o frankie e ele q não nos lê um enorme beijo. E as saudades de lá não param de crescer.

7:09 da tarde  
Blogger Gloria Horta said...

Olá. Sou brasileira e trabalho no Setor Educativo do Centro Cultural Justiça Federal. Queremos fazer um trabalho aqui sobre a África e, procurando na Internet, encontrei este blog maravilhoso. Tenho vontade de fazer algumas leituras de trechos para os estudantes que aqui vêm. Há passagens muito interessantes e diferentes do que se vÊ nos livros. Nosso trabalho está em www.eduvertido.blogspot.com e no www.ccjf.trf2.gov.br .
Meu e-mail é gloriahorta@gmail.com
Parabéns por sua sensibilidade!
Essas terras me lembram Búzios de trintaq anos atrás. Um grande abraço.

8:00 da tarde  

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